Como sou teimoso, não desisto. Não obstante estarmos em
democracia desde 1974, 3 anos após o desaparecimento da tripulação do Angoche,
nem isso trouxe luz às famílias desses tripulantes. Tudo começou no dia 22 de
Abril de 1971. Nesse dia a Base de Nacala alterou o destino do navio que
atracou às 15h. No dia 23 de Abril saiu de Nacala com destino a Porto Amélia. A
sua chegada estava prevista para dia 24. No dia 24 de manhã (sábado)
estranhou-se em Porto Amélia a não chegada do navio aquele porto. Dia 25
(Domingo) interrogaram-se sobre o seu não aparecimento. Dia 26 (2ª feira) a
C.N.N. alertou as autoridades que desconheciam a localização do navio. Soube-se
posteriormente, pelo inquérito que foi feito ao comandante do petroleiro “Esso
Port Dickson “ em Durban pelas autoridades sul-africanas, que este tinha
registado no seu diário de navegação que, pelas 07:30 do dia 26 de Abril na
posição 15º 27 ´S 40º 56 E tinham encontrado o navio “Angoche” com fogo a
bordo. Somente no dia 27 comunicou o achamento do navio. A partir desse dia,
quer a C.N.N quer as autoridades, tentaram comunicação com o petroleiro, mas
este não deu resposta. Também foi registado no Diário do Navio que no dia 29 se
encontrava a 125 milhas da Beira. As autoridades navais, e não só, continuaram
as suas buscas, mas em vão. Somente no dia 3 de Maio, o petroleiro foi abordado
pelo “Hermegildo Capelo“ e verificou-se que o “Angoche” ia a reboque do
petroleiro e, junto destes dois navios estava o rebocador “Baltic”. Também
vinha mencionado no diário de bordo que, no dia 27, a tripulação combateu o
incêndio no “ Angoche “ e que atiraram carga ao mar devido a este estar
adornado. Mais declarou o Comandante que nos dias 28, 29 e 30 não respondeu aos
pedidos de chamada porque estava a negociar o achado. Dia 2 de Maio o
radiotelegrafista do “Esso Port Dickson“ entrou em comunicação com o colega do
navio costeiro “Covilhã” informando-o do estado em que tinham encontrado o
“Angoche “. Entretanto a corveta “João Coutinho “ efectuava buscas procurando
os tripulantes. No dia 6 de Maio, o “Angoche “ entrou em Lourenço Marques a
reboque do “ Baltic “.Fiz votos para que este triste acontecimento não caísse
no esquecimento dos que prezam a Verdade e a Amizade, dois dos factores
essenciais para uma Sociedade e para uma verdadeira Democracia. Mas enganei-me.
Até agora e em relação a este caso, só as moscas é que mudaram. O resto é tudo
igual. Os meus respeitosos cumprimentos às Famílias envolvidas.
P.s. Para este texto muito contribuiu o livro publicado pelo
Comandante Jaime Reyes Leça da Veiga; A Marinha Mercante e a Guerra Colonial. Uma
vez mais os meus agradecimentos pela partilha.
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