Meu saudoso
amigo, Jorge Saldanha
Prometi e
aqui estou, agora, friamente, não a relatar factos dos teus últimos dias na
nossa companhia. Quanto eu lamento a desumanização que sentiste. Quanto eu
lamento o sofrimento porque passaste. Quanto eu lamento que “seres humanos”
tratem o seu semelhante, tal qual tu (não) foste tratado. Acredito que um dia
mais tarde, alguém será julgado pelo que fizeram e talvez mais importante, pelo
que não fizeram. Casos destes, como o teu, são extremamente delicados, por isso
optei por me apoiar em alguns amigos, daqueles que felizmente temos e tenho que
dar graças a Deus por os ter. Por isso, transcrevo apenas um dos muitos que
recebi, e que explica passo a passo, palavra a palavra, linha a linha o que
deve ter sido o teu e o nosso problema. É assim, com amigos destes, que nos
podemos sentir felizes e mantermos esperança dentro de nós.
QTE
MEDICINA JURÍDICA
Carlos Alberto. O caso clínico do teu Amigo é muito
complicado. Era uma pleurisia e preenchia os critérios de ser tuberculosa.
Ignoramos se foi isolado ou não o BK. Que pode levar muito tempo meses de
estudo laboratorial. O Mantoux era positivo? Se o diagnóstico veio a ser
Neoplasia do pulmão como alternativa foi por falta de dados a favor da
tuberculose pulmonar. Como sabes há muitas restrições, Portugal não pode pagar
exames laboratoriais caros sem uma justificação e este caso estava perdido nas
actuais condições; os Colegas trabalham sem meios suficientes. Ainda bem que
tens a honra de lutar pelo Destino do teu Amigo. Não foi tão mau como parece.
Peniche teve um excelente Médico o Dr. Pires de Carvalho porque além da
assistência gratuita que dava no Hospital da Misericórdia era capaz de fazer
diagnósticos certos com 5 ou 10 % de dados objectivos e 90% de elementos colhidos com os «olhos da alma». Era espantoso o
modo como ele acertava por Intuição. É bom conservar a memória destes pioneiros
da maravilhosa Medicina Portuguesa, superior à dos países ricos. Que sorte
Peniche teve com a assistência humana deste médico. Sou Português e contrário à
Medicina Americana que é muito segura mas desumana. Os doentes são literalmente
massacrados e nem lhes perguntam se querem ou não porque já assinaram o papel
que permite ao médico mandar fazer tudo o que for necessário. Dou exemplos:
Caso 1. Uma mulher tinha sido internada no Hospital com febre. Fizeram o
diagnóstico de endocardite subaguda e todos os dias repetiram as hemoculturas.
Como tinha um proteinograma que depois em Portugal vim a saber que era causado
por alterações de depósitos de imunoglobulinas, macroglobulinas. Perguntaram-me
qual era o diagnóstico. Eu disse que era uma endocardite subaguda e se fosse na
minha terra eu estava a medicar há muito tempo mesmo sem diagnóstico laboratorial.
Disseram-me que isso era no meu País, na América isso não acontecia. Passados
poucos dias morreu e era endocardite. A Companhia de seguros impediu o tratamento
Caso 2. Um doente foi internado com peritonite purulenta. Por ter
alterações urinárias fizeram exames à bexiga, tinha divertículos abundantes não
se visualizou aquele que tinha perfurado e infectado o peritoneu. Repetiram
tantas vezes, sem tratamento, cada vez com maior pressão do contraste. Quando
souberam isso, o doente morreu sem tratamento mas judicialmente certo.
Caso 3. No laboratório aonde estava fugiu um rato. Deram o alarme. Foi um
show ridículo. Todos os dias havia estragos do rato esfomeado. Como já tinha a
minha dose do «sistema Americano» respondia às queixas: se fosse na minha terra eu sabia
como apanhar o rato mas na América é tudo muito mais civilizado, evoluído.
Um dia já saturados disseram-me: mostre lá como fazia na sua terra? Levei uma
pinça com alimento de rato ao bico de Bunsen; aquele cheirinho de assado atraiu
o rato e eu apanhei-o à mão, e sem luvas, em minutos.
Portugal, um País com uma Cultura Espiritual avançada
entrou em Crise Política de Intemperança por vazio de valores Éticos. Deu como exemplo a Cura da Crise pelo rei
D. João I. A estupidez política inventou que o Mal da
Crise, o seu centro não era a Austeridade. Este é o começo de todos os dramas
uma Crise de excessos sumptuários que tem uma cura pelos Quatro Fardos do camelo
sequioso, em vez de ser de Austeridade devia ter os Quatro Princípios que
restabeleçam a Temperança Ética. O Português indigno da sua tradição espiritual
habituou-se a mamar em qualquer teta. Hoje, destruídas as famílias citadinas,
lucram com os acidentes médicos.
Estou a fazer um enorme sacrifício físico para conseguir não morrer sem
repor a Verdade e o BEM ensinado pelos nossos Pais Divinos. Quando tiver de
voltar espero encontrar qualquer coisa Verdadeira e Boa compatível com a
Ciência Experimental que tem de ser reavaliada. Digo todos os pontos aonde
temos de renovar o Conhecimento. A Humanidade não pode aceder à Verdade. Então
eu tenho
de diluir o que digo para cada um escolher o tipo de ideias que estão em falta
para ele inventar as doutrinas que a sua Mente pode aceitar. A Verdade
é demasiado alta para a maioria. Este trabalho de décadas da minha vida
permitiria ter uma sociedade justa se a Mente humana pudesse viver o ensino dos
nossos Pais Divinos. Não discutas casos clínicos em público. Não houve desleixo
mas um processo muito moroso. Não gostaria de viver num País que recusasse a
sua Tradição Espiritual. O povaréu politizado vai acabar por morrer
juridicamente certo e de modo desumano, desamparado. Hoje os velhos morrem e
ninguém sabe que morreram por falta da Família. Abençoados os que ainda têm
Família em Portugal para eu falar na Cultura Espiritual Portuguesa. Será assim
tão difícil de entender? Aos embriagados da Política: a mama está a acabar.
HAC
HAC
UNQTE
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