Com o devido respeito a todas as pessoas que trabalham na
Fortaleza de Peniche quero dizer que, este texto, nada tem a ver com os seus
trabalhadores e directores, mas apenas e tão só com o seu conteúdo. Durante 12
anos como operador marítimo-turístico, ouvi, vezes sem conta, da boca dos
turistas que transportava à Berlenga, as impressões da sua visita à Fortaleza.
Maioritariamente não eram nada abonatórias para a nossa Cidade. Tentava
explicar que aquele espaço iria ser remodelado, pois o que lá estava
representado, em nada dignificava a Fortaleza, os presos políticos e, em
especial, as gentes de Peniche. Tal como naquela altura a minha opinião
mantêm-se inalterada. É a minha opinião e que só a mim obriga. Trabalhei na
aviação comercial e conheci por esse mundo afora casos semelhantes ao da
Fortaleza de Peniche e, para tristeza minha, nunca vi uma homenagem aos presos,
políticos, tão pouco honrosa para os que lá estiveram. Há uma em Recife e outra
em Natal, Nordeste Brasileiro, gente simples, hospitaleira, humilde até, que
nos mostra como uma prisão pode ser um hino à memória dos que ali estiveram
encarcerados, um hino ao bom gosto e uma verdadeira mostra dos valores da
Cidade e da Região. Enfim, um verdadeiro hino aos nossos antepassados. Só de
pensar, no modo como o nosso Salva-vidas Peniche tem sido tratado ao longo
destes anos, até me arrepia. Querer perpetuar a memória de um punhado de homens
com “aquilo” que lá está, é o pior, o mais execrável para os próprios, mas,
pior ainda, é terem-se esquecido da população de Peniche. Quando eles
reclamavam, como o tal senhor na antena1, que só comiam chicharro frito ou
cozido, de certeza absoluta que desconhecia qual era a alimentação das gentes
de Peniche nessa época e lembrarem-se dos milhares que aqui viviam e que
passaram necessidades, que ganhavam miseravelmente, trabalhando noite e dia,
ora ajudando na Ribeira, ora fazendo trabalhos nas fábricas de peixe e não eram
35 horas por semana. Lembram-se os mais velhos, mas não os políticos, da
dificuldade da população em pagar as despesas de alimentação, do vestir, da
educação dos filhos, da Farmácia e outros bens. Enquanto as outras terras
prosperavam, Peniche estagnava, poder-se-ia dizer mesmo que regredia. Peniche
tinha apenas uma estrada. A mesma para entrar e para sair. A evolução para
Peniche estava interdita. Lembram-se que, até para se alargar a actual Avenida
do Mar, o governo colocava todos os entraves, pois não queriam Peniche LIVRE.
Se uns estiveram presos na cadeia, lembrem-se de que a maioria dos Penicheiros
estavam presos dentro da sua própria terra. As memórias devem e têm que ser
preservadas, mas restringir apenas a um punhado de homens, muitas das vezes
apenas a um só homem, é desvirtuar a História e enganar alguns menos
esclarecidos. Assim, tal como antigamente, são os PENICHEIROS os mais
prejudicados. Assim, a última palavra cabe aos Penicheiros. Deixemo-nos de
politiquices porque o que está em causa é o futuro desta Cidade e desta Região.
Não é o futuro de um qualquer partido político. Nunca mais ao radicalismo
político autoritário, nem de direita nem de esquerda.
Mutio bem dito amigo Carlos Alberto Tiago. Tens razão no que escreves e também sobre outras coisas que não escreves.
ResponderEliminarMuito bem dito amigo Carlos Alberto Tiago. Tens razão no que escreves e também sobre outras coisas que não escreves. Na minha opinião não se pode fazer com a Fortaleza o que se fez com a sede da política política na Rua António Maria Cardoso onde, para tapar o sol coma peneira, lá acabaram por colocar uma placa alusiva ao triste passado daquele edifício e de quem lá sofreu... Voltando à Fortaleza, em vez de uma pousada, para reabilitar todo aquele espaço, dar-lhe dignidade, valoriizar culturalmente a "cidade" de Peniche, preferia que lá fosse implantado um pólo cultural com um museu da resistência, um museu etnológico, uma sala de espectáculos polivalente, recintos para espectáculos ao vivo dentro das muralhas, espaços dedicados à gastronomia, etc. As potencialidades para a oferta cultural geram um efeito multiplicador muito maior do que uma pousada, sobretudo se for explorada pelo grupo Pestana que só tem dado cabo de algumas pousadas de reconhecida qualidade. A diversidade de saídas culturais é vasta. Os operadores de mercado nesta área estão sempre disponíveis, seja para espectáculos de massa, seja para outros mais restritos. Peniche presisa de cultura, de actividades ligadas às humanísticas como pão para a boca. Só a cultura poderá elevar um espaço com o carisma negativo que a fortaleza ainda hoje tem.
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