terça-feira, 28 de julho de 2015

O RATO-PRETO DA ILHA DA BERLENGA É INOCENTE?

Luís Costa afirma que os técnicos da SPEA estão a fazer estudos da dinâmica da população, cuja conclusão está prevista para Maio do próximo ano, e que foi pedido um estudo de genética à Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa. "As coisas não são feitas de ânimo leve. Se virmos que o rato é realmente importante para o ecossistema e que não pode ser erradicado, abortamos a operação", admite. O ICNF, responsável pela gestão da reserva, apoia o extermínio. "A erradicação e o controlo do rato-preto foi ponderada no passado, nunca tendo sido desenvolvida" porque exige "um grande volume de trabalho e de verbas" só possíveis em projectos de grande dimensão, diz Maria de Jesus Fernandes, directora do Departamento de Conservação da Natureza e das Florestas de Lisboa e Vale do Tejo.
Num debate promovido recentemente em Lisboa pelo eurodeputado José Inácio Faria, do Partido da Terra-MPT, Luís Vicente confessou-se “chocado” com algumas medidas previstas no LIFE Berlengas. “Os ecossistemas insulares são muito frágeis, dependem do equilíbrio entre as espécies, e a população de ratos parece estar em equilíbrio com as restantes que habitam na ilha”, afirma, sublinhando o papel importante dos roedores no arejamento do solo e na disseminação de sementes. Além disso, o biólogo condena o método previsto para a erradicação – segundo ele, envenenamento por pesticidas com acção anticoagulante que provocam hemorragias até à morte lenta do animal – e alerta para o eventual perigo para outras espécies que se alimentem dos cadáveres. Luís Costa contrapõe garantindo apenas que "não serão usados venenos que afectem outras espécies ou que possam causar problemas de saúde pública".
"É irresponsável e criminoso", acusa o biólogo Raúl Santos, ex-técnico superior da reserva e ligado às Berlengas há "mais de 20 anos". "Os mamíferos são tão importantes como as aves" naquele ecossistema, defende. Um estudo feito em 1988 sobre o rato-preto da Berlenga, citado no plano de ordenamento da reserva, destaca "as características singulares" do animal, que lhe conferem "um elevado interesse científico". "Ninguém sabe se o ADN do rato está já diferente do do continente, ou se pode ainda evoluir para uma subespécie diferente. Vamos dar cabo disto?", questiona por seu turno o botânico Jorge Paiva, da Universidade de Coimbra. "A perda desta população, significaria a perda de uma 'livraria' de informação genética que poderia vir a esclarecer muitos mecanismos evolutivos", alertam os autores do documento As propostas de extermínio de espécies na Berlenga Grande e as dúvidas que estas suscitam.
Mas o rato-preto não é o único “criminoso” da Berlenga a enfrentar a pena de morte. A sentença é extensível ao coelho-bravo (Oryctolagus cuniculus), outra espécie introduzida (talvez para caça, no reinado de D. Afonso V, no século XV), acusada de destruir o coberto vegetal e alterar a dinâmica do solo, prejudicando a conservação dos habitats e da flora das ilhas. O director da SPEA adianta que está a ser estudada, em alternativa à erradicação, a "captura por armadilha do maior número de coelhos vivos, e a transferência para zonas do continente onde sejam mais úteis em termos de conservação da natureza" - como por exemplo para assegurar a sobrevivência do lince-ibérico, no Alentejo.

O MPT vai interpor uma providência cautelar pedindo a suspensão do projecto “até que exista uma fundamentação credível para aquelas medidas”, disse José Inácio Faria. Existe já uma petição pública online com o mesmo objectivo. O Bloco de Esquerda, Os Verdes e o PAN (Pessoas-Animais-Natureza) também já se manifestaram contra o projecto.

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